Nunca ouvi alguém negar a relevância do fator humano nos processos de inovação e desenvolvimento sustentável dos negócios. Quando se trata de gestão empresarial, a contribuição vital das pessoas tem sido um dos poucos aspectos unânimes no mundo corporativo. Até mesmo entre os gurus da tecnologia mais entusiasmados com a revolução da chamada Indústria 4.0, todos parecem estar bem conscientes de que é imprescindível manter e desenvolver cada vez mais a inteligência humana, que, somada à excelência de máquinas conectadas, gera ganhos de eficiência e pereniza o lucro, mas com sentido e propósito.
Em uma pesquisa divulgada recentemente, 38% dos CEOs entrevistados afirmaram que um dos maiores desafios de sua gestão é dispor de pessoas com as competências para assegurar o futuro do empreendimento. Em empresas de todos os setores e tamanhos, no Brasil e no mundo, os melhores líderes já sabem que, nem com toda Inteligência Artificial será possível produzir mais e melhor com menos sem contar com a contribuição de pessoas felizes. Ou seja, ninguém desfrutará integralmente dos benefícios das tecnologias 4.0 sem contar também com pessoas 4.0, aquelas que chamo de Líderes da Nova Liderança (LNL).
Por isso mesmo, as organizações têm direcionado seu foco mais estratégico à área de gestão de pessoas e investido milhões em programas de atração, desenvolvimento e encantamento de talentos. Parece tudo muito lógico: se todos concordam que o fator humano é vital para o empreendimento, então, é fundamental investir cada vez mais nas pessoas. Existe, porém, outro dado a ser considerado que desmonta essa aparente lógica.
Quanto mais dispostas a oferecer condições para o desenvolvimento das pessoas, menos as empresas conseguem o real engajamento dos colaboradores. Esse fenômeno já foi apontado por inúmeros estudos realizados ao longo da última década. E um dos mais recentes revela que 85% das pessoas não se sentem verdadeiramente engajadas no trabalho diário. Ou seja, na prática, as empresas investem pesado em programas de atração e retenção das melhores pessoas e, mesmo assim, estão perdendo muito em produtividade, pois a maioria não quer de fato estar ali.
Quando avalio esse contexto, o paradoxo corporativo surge como uma das evidências de que o modelo de gestão aplicado até hoje pela maioria das empresas – no mundo e, é claro, no Brasil – já não é tão eficiente. Não basta oferecer condições de desenvolvimento e querer receber dos colaboradores toda inteligência, resiliência a pressões e alta performance. Cada um segue em frente, desmotivado, desengajado, pouco produtivo e muito distante da eficiência que poderiam alcançar.
O melhor antídoto para combater esse paradoxo é a implementação de uma nova cultura organizacional. O que falta na atual equação corporativa e pode ser implementado facilmente é a criação de um ambiente realmente participativo, de respeito e valorização da essência das pessoas, de seus valores, sonhos, interesses e propósito de vida levados em conta no ambiente de trabalho. É preciso estabelecer relações de confiança com imparcialidade, promovendo a convergência entre o propósito de cada colaborador e a razão de ser da organização. Só quando o trabalho diário passar a fazer sentido e convergir com o que a pessoa busca, aí, sim, está sendo fomentado o engajamento mais profundo e verdadeiro.
Para isso, um bom começo seria facilitar o caminho, que pode ser vertical, horizontal, diagonal ou até para fora de seu negócio, para que cada um assuma sua autonomia e empreenda em favor do próprio desenvolvimento. Esse protagonismo gera benefícios para todos.
Artigo publicado originalmente no aplicativo da revista Você S/A em 04/07/2018.
Voltar para o blog