Foco no “como”

Durante muito anos de minha carreira, ouvi de diversos chefes que deveria usar sempre em meus projetos o “que”, “quem”, “quando”, “onde”, “por que” e “como”.

Faziam isso para tentar garantir que o trabalho atendesse aos critérios do modelo padrão 5W e 2H. O 5W2H surgiu no Japão, criado por profissionais da indústria automobilística durante os estudos de qualidade total.

Em português, seria: 1. What – o que, 2. Who – quem, 3. When – quando, 4. Where – onde, 5. Why – por que; e as duas letras H vêm de “How and how much – como e quanto.

Bem típico de modelos organizados e um tanto quanto padronizados, o 5W2H estabeleceu trilhos rígidos sobre os quais projetos e planos de ação deveriam trafegar.

Você deve estar pensando: esses caras são bons mesmo e, como são práticos, emplacam coisas que são de fato simples e muito pragmáticas. É verdade, mas nós também podemos fazer coisas incríveis. Vou te dar um exemplo.

O “como” original do modelo 5W2H nasceu para doutrinar, enquadrar, direcionar, quantificar, mas vi numa empresa o “como” ser usado para o que mais agrega valor, dá sentido ao trabalho e incentiva por inspiração o movimento de muitas pessoas.

O Brasil tem uma lei que obriga empresas a contratar meninas e meninos com idade de 15, 16 ou 17 anos para serem Jovens Aprendizes, e assim cumprirem com uma cota pré-definida.

O programa tem por objetivo ensinar uma profissão a jovens carentes. A maioria das instituições, no entanto, não está preparada para isso. Contratam jovens e os transformam em entregadores ou empilhadores de papeis, com atividades sem fundamento útil que os permitem apenas cumprir a lei!

As pessoas desta empresa que uso como exemplo fizeram diferente: por meio de um trabalho conjunto de líderes, do jurídico e de recursos humanos, além de colaboradores de diversas áreas, mapearam todas as casas de acolhimento, os antigos orfanatos das cidades. E desenvolveram um trabalho, com autorização da vara da infância e juventude, de ir até os abrigos e formar as crianças de idade compatível, para que elas pudessem atuar em atividades na empresa como aprendizes, com chances reais de serem efetivadas ao final do programa, quando os jovens completam 18 anos!

Uma fatia relevante das crianças abandonadas que estão acolhidas nos abrigos, quando sai, não consegue com facilidade moradia digna e emprego.

Então, o olhar cuidadoso e provido de interesse genuíno dos líderes e colaboradores dessa empresa deu nova forma ao “como”, levando-o muito além do how e do how much.

Esse foco na forma converge propósitos e transforma vidas – de todos, inclusive de líderes e colaboradores de uma empresa, que se unem, se ajudam e superam barreiras comuns à maioria dos empreendimentos: o ego, as disputas de poder, o isolamento de departamentos e pessoas.

Nesse exemplo, a virada começou com uma lei, que poderia ser encarada como mais um fardo, mas foi percebida como uma grande oportunidade de ir além, com foco na forma, com muito mais sentido para todos.

Como nunca, vejo pessoas e empresas buscando conectar-se com essa “nova” forma de pensar e fazer. Felizmente!

Nesse aspecto, precisamos e podemos ser protagonistas! O what, who, when, where, why e o how much podem continuar por algum tempo em trilhos e não ter ainda sua contribuição direta. Mas o how – como, esse depende diretamente do quanto você estará empenhado nesse propósito de ir além e superar limites.

Não perca a chance de fazer o seu melhor, sempre!

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Artigo publicado originalmente no aplicativo da Revista Você S/A em 25/11/2019.



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